Temática

Bauru é o famoso sanduíche que, na teoria, reune uma porção de ingredientes, mas que na realidade é formado de pão francês sem miolo, mussarela derretida em banho maria, uma fatia bem fininha de rosbife, picles e tomate. Também é uma cidade que surgiu a partir de uma economia cafeeira, acomodou um belo entroncamento ferroviário que auxiliou na penetração do território brasileiro e permitiu que os maquinistas, alimentados com baurus, trouxessem em seus vagões o novo café, um novo olhar e um novo desenvolvimento urbano.

Naqueles trens que vinham do litoral, a imagem que se tinha do interior era comum: charretes puxadas por equinos, vestidos floridos de senhoras debruçadas nas janelas e terra, muita terra. Cidades que além de todo esse café produziam também seres humanos, charretes e flores estampadas. Produziam e ainda produzem. Mas essas cidades também produziram grandes avenidas, novas estampas, novas culturas, altos prédios e velozes automóveis. Estes últimos, como o ocorrido com o café, talvez tenham sido produzidos em nauseante demasia.
Uma porção de terra cercada com uma porção de água é uma ilha. Já qualquer porção de terra habitada por uma porção de gente é o que podemos chamar de espaço singular, que pode ser uma casa, uma árvore, uma cidade e até mesmo uma ilha, quando não deserta. Portanto, todos os espaços singulares, por serem semelhantes, se relacionam. Assim, cada casa é sinédoque da cidade, cada cidade é sinédoque do país, cada país é sinédoque do mundo, ainda que cada parte mantenha seu próprio funcionamento e, ao mesmo tempo, uma lógica em comum.

A sinédoque nada mais é que uma figura de linguagem retórica na qual se exprime uma parte por um todo ou um todo por uma parte, o autor pela obra, uma estampa pelo vestido, o ingrediente pelo sanduíche, o singular pelo plural. E foi dessa maneira, sendo parte singular das cidades do Brasil, que Bauru se organizou dentro, e ao mesmo tempo fora do padrão imaginado. No mínimo heterogênea, no máximo cosmopolita, com jeito de roça do futuro – contradições que deram suporte para a constante busca pelo progresso.
A temática do XXXV Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo abordará o panorama das cidades brasileiras, tomando como base não só Bauru, mas também outras cidades médias do centro-oeste paulista - porções de terras habitadas por porções de gente, e, portanto, espaços singulares relacionados - na busca de compreender as diversas identidades (e porque não singularidades) que formam e transformam a cultura e o território contemporâneo. Ou seja, entender o que faz aquilo não ser isso. Ou o que faz Bauru não ser apenas um misto.
Os eixos que, antes ferroviários ajudaram a organizar todo o centro-oeste paulista, agora programáticos ajudarão a organizar todo o encontro, trilhando e orientando as linhas de discussões:
Estereótipo, além de ser aquela palavra que todo mundo troca os es pelos is, será o ponto de partido para trabalhar a percepção e a experiência sensitiva da cidade a partir do primeiro olhar do estrangeiro, nesse caso não só o gringo, mas cada participante;
Metamorfose Urbana, e não ambulante, será o caminho para compreender a vivenciar as relações históricas, culturais e sociais que compõem a identidade de uma cidade;
A Cidade por si e pelo todo é identificar a construção do território urbano através de seu desenho, paisagem, arquitetura, planejamento, usos e ocupações cotidianas, do macro para o micro, da parte para o todo;
Deslimites Urbanos e Humanos sintetiza as análises dos eixos anteriores, discute os novos desafios para as ações de planejamento e desenvolvimento das cidades, bem como o próprio papel do homem na construção do tempo/espaço contemporâneo.
Mas e por fim, por que o Interior Sem Estereótipos? Interior é aquilo que está dentro, seja de um espaço geográfico delimitado ou de uma camada de epiderme. Homens e territórios se misturam e se transformam a cada minuto, possibilitando sempre novas maneiras de ser, de pensar e de responder aos desafios da existência. E é nesse elo cada vez mais estreito, do olhar que transcende as imagens pré-concebidas, nesse ambiente cada vez mais heterogêneo que o ENEA Bauru 2011 pretende promover a melhor experiência entre trocas humanas, da carne, sensorial e empírica, à essência.