Considerações filosóficas de um caipira
Tio Joaquim, já de cabeça branca, provavelmente com mais de cinquenta, vende seu sítio a um oportunista qualquer, abandona o rio Bauru e muda para a cidade trazendo consigo apenas a sabedoria cabocla. Passava horas a observar o movimento daquela florescente cidade de porte médio, que para ele tinha agitação de uma grande metrópole.
Certo dia saiu-se com esta: “Uma cidade grande como Bauru é como um tacho de melado, verve dia e noite. Enquanto o centro do tacho vai vervendo vai jogando a escuma pras beradas”.
Mesmo sem nunca ter ouvido falar em funcionário fantasma e inchaço da máquina pública, sempre que ia a uma repartição voltava espantado com o número de funcionários e afirmava que era impossível exercer qualquer controle sobre tantos empregados. Garantia que dia de pagamento até ele poderia entrar na fila que o patrão pagava.
Lázaro Carneiro nasceu em 1950, no distrito de Guaianás, em Pederneiras. Viveu e trabalhou na roça até os 17 anos, quando se mudou para a vizinha Bauru. Tinha estudado apenas o primeiro grau numa escolinha rural. Foi trabalhar na CPFL e teve um chefe que ajudou a mudar sua vida. Não pelo emprego, apenas, mas pela consciência política que despertou. Hoje, aos 55 anos, pai de três filhos, virou poeta a ponto de receber homenagens em faculdades e escolas e ser até referência para bandas da cidade. Escreveu em 2003 "O Caipira Que Leu Nietzsche" (124 páginas), livro que editou com o dinheiro da própria aposentadoria, e traz poesias que retratam o universo caipira com uma visão raramente cantada pelas duplas sertanejas. "Aprendi a fazer poesia com as rimas pobres de Tonico e Tinoco, mas essas duplas sempre cantaram a favor do capital". (Ricardo Fela - http://www.overmundo.com.br/overblog/lazaro-carneiro-o-caipira-que-leu-nietzsche).
Fonte: http://lazarocarneiro.blogspot.com
Um comentário:
belas tiradas filosóficas,esse é o lado bom da internet derrepente você tromba com essas verdadeiras pérolas.
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